quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Greve sem apoio

Os bancários estão em greve em todo o Brasil, causando muitos transtornos para todos que precisam usar os bancos. Ou seja, toda a população. Uma campanha por melhores salários, não interessa em que categoria, deveria sempre ser capaz de sensibilizar a população, mas com os bancários ocorre exatamente o contrário: a maioria da população acaba ficando contra eles, e a imagem dos bancários fica pior a cada greve.

Acho que eles não sabem se posicionar. Explico: algumas semanas atrás perdi 50 minutos numa fila de banco. Apenas dois caixas operando e um deles exclusivo para privilegiados (idosos, gestantes, etc). Todas as pessoas da fila estavam muito irritadas com a demora. Durante este período, e também muito irritado, eu saí da fila duas vezes. Uma para falar com a gerente solicitando que ela tomasse uma providência com relação ao caso. Por lei, naquele dia o período máximo de atendimento era de 20 minutos. Sem esconder sua contrariedade por ser questionada, ela me explicou que não podia fazer nada porque estava com poucos funcionários, e ainda quis me encaminhar para o caixa dos privilegiados. Fiquei mais irritado ainda. A outra vez que saí da fila foi para me dirigir a um homem de uns cinqüenta anos no máximo, bem saudável, que estava sendo atendido na fila dos privilegiados. Discuti com o tal homem, que se irritou, mas que se recusou a apresentar um documento que comprovasse sua idade. O caixa nem se abalou, e ainda balançou a cabeça condenando minha abordagem. Todos na fila vaiaram e se manifestaram contra o homem, que naquele momento estava passando a perna em todos da fila, com a conivência do banco. Durante minhas duas manifestações no banco, os clientes da fila me apoiaram, mas os funcionários do banco sacudiram a cabeça negativamente, como que pensando “mais um barraqueiro para nos encher o saco”. Na saída, e já bem atrasado, cheguei no estacionamento do banco e encontrei um carro estacionado atrás do meu, bloqueando minha saída. Pergunta pra cá, pergunta pra lá e descubro que o carro era de um dos funcionários do banco, um daqueles que tinha balançado a cabeça condenando minhas manifestações anteriores. Meu sangue italiano ferveu e aí eu fiz mesmo um grande barraco dentro do banco.

Por que eu estou relatando este episódio? Porque cada barraco desses deveria ser encarado pelos bancários como um importante apoio à sua causa. Cada cliente que reclama no banco no fundo está querendo dizer: este banco precisa ter mais e melhores funcionários para nos atender. Este banco precisa investir mais em pessoas. Os bancários olham para os clientes que reclamam com aquelas caras de contrariados e não aproveitam em benefício próprio as manifestações. Por medo de perder o emprego, o gerente do banco é capaz de dizer para seu diretor que na sua agência está tudo sob controle, que pequenas manifestações de clientes são facilmente contornáveis, que ele consegue atingir as metas e atender bem os clientes com aquele número de funcionários. Uma miopia gerencial terrível. Ao invés de ficarem ao lado dos clientes, e usar a força dos clientes como apoio para suas reivindicações, os bancários preferem a via da comodidade, da greve, e aí os clientes que se lixem.

Agora mesmo nesta greve, não tenho vontade nenhuma de apoiá-los. A única coisa que realmente tenho vontade de fazer é gritar: Vão trabalhar, vagabundos!!!

Um abraço do Dr. I

4 comentários:

  1. Claudio Caccioli - Campinas7 de outubro de 2010 às 20:27

    Bem, com relação ao mau atendimento, há alguns anos os bancos vem em um movimento de migrar para transações eletrônicas (muuuito mais rentável e lucrativo), e com isso, diminuindo funcionários e principalmente, suas qualificações. Gerentes de banco hoje são simples vendedores de produtos bancários, e raros são os que tem conhecimento e preparo para de fato gerenciar, ou mesmo orientar seus clientes a respeito de investimentos, de mercado (os pacotes que eles vendem não necessitam conhecimento do mercado financeiro, é só decorar o diferencial de cada um).
    Com relação à greve, sou, por princípio, desde adolescente, contra greve, e olha que sou nascido e criado no grande ABC paulista. Greves nos dias de hoje não são mais formas legítimas ou inteligentes de reivindicar, isso quando reivindicam realmente o que deveria ser o foco (hoje, como nos anos 80, greve é para pleitear aumento de salário e diminuição de horas). No Japão, funcionários protestam utilizando faixas no braço ou na cabeça e produzindo menos que o usual. Não há nada pior para o patrão do que saber que conta com uma equipe totalmente desmotivada, o q por si só já reduz produtividade, além de ter sua capacidade produtiva não explorada em todo seu potencial. Ah, esses japoneses!

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  2. Olá Newton!

    Adoro seus textos, em especial aqueles que se refere-se à liderança, gestão e comportamento, ou seja, focado no que há de mais precioso no mundo: as pessoas.

    Este também está o máximo, seguidamente vejo esse tipo de atitude horrorosa (tanto na posição do “bancário” quanto na posição dos espertalhões que acham que tem mais direito do que os outros, me envergonho por isso, me envergonho por eles...).

    Quis escrever para você sobre isso, pq tive acesso na minha aula da Pós-graduação, que a estratégia dos bancos era expurgar os clientes das estabelecimentos bancários, inclusive os idosos que não tem a menor habilidade com os caixas eletrônicos. A idéia é transferir todas as operações bancárias para a internet, o que de fato é ótimo, mas nem sempre possível para todo mundo. Assim, eles atendem mal, dedicando apenas 2 pessoas enquanto na maioria dos casos há estrutura para uns 8 caixas operando. Sem contar no absurdo de dizer para os idosos que vão até receber seus benefícios por exemplo, que eles não pagam no caixa a partir de determinado valor, somente nos caixas eletrônicos. Eles que se levantem, busquem o dinheiro onde quer que seja e entreguem ao idoso!!! Como as pessoas de idade se sentem encabuladas de reclamar e contestar a regra estúpida da super-mega-blaster potência que é o banco em questão, acabam tendo que se virar da forma que conseguem. Um verdadeiro horror e exemplo de falta de respeito com as pessoas de mais idade!

    Obrigada por protestar pacificamente. Acredito muito no poder das palavras das pessoas instruídas e de boa vontade. Quem sabe um dia podemos tornar as coisas verdadeiramente melhores e mais justa para todos. E viva a internet que pode nos ajudar com isso!

    Um grande abraço para você, bom final de semana.

    Atenciosamente,
    Andréia Edi da Silva

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  4. Tudo certo Dri, porém uma ressalva. Meu pai tem 64 anos, porém aparenta muito menos. E se esse cara da fila tivesse menos? Outra, quem tem que pedir o documento é alguém do banco, mas sempre são omissos. Como no Brasil é só espertalhão... Particularmente eu ñ gosto desses caixas especiais, mas precisamos ser civilizados e respeitar a lei. Uma das minhas avós que hoje tem 84 anos, há algum tempo atrás andava de ônibus e fazia questão se pagar a passagem. Ah, como seria bom se mais gente tivesse o caráter da minha avó!

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