Aos 17 anos aprendi uma importante lição e desde então procuro aplicá-la em todos os momentos da vida.
Num curso de desenhista de arquitetura de uma tradicional escola de desenho de Porto Alegre, eu era o melhor aluno (êta modéstia) de uma classe de poucos talentos. Quando o professor corrigia meus trabalhos, sempre fazia muitas críticas e riscava os desenhos, me obrigando a redesenhá-los completamente. Para os trabalhos dos meus colegas, nitidamente inferiores aos meus, eram só elogios e praticamente nenhuma correção. Aquilo me irritava profundamente. Imaginem um adolescente nessa circunstância. Fui pegando uma raiva do professor e da sua falta de critérios que vocês não imaginam. Ao mesmo tempo fui desenvolvendo um instinto de superação muito intenso. Adorava desenhar, mas odiava quando o professor corrigia meus trabalhos. Então me tornei extremamente perfeccionista com meus desenhos. Ficava imaginando o que o professor poderia criticar nos desenhos e desenhava e redesenhava até não restar mais uma possibilidade de correção. Mas não adiantava, pois ele sempre encontrava algo para criticar.
Um dia, me enchi de coragem e pedi para conversar com ele em particular. Fiquei na sala depois da aula até que todos saíssem, ficando apenas eu e o professor. Desabafei! Disse-lhe tudo que estava pensando e que me irritava. Acusei-o de me perseguir, de não gostar de mim, de proteger os colegas, e disse-lhe mais alguns impropérios, próprios da idade. Foi aí que, com toda a tranqüilidade, ele me deu uma lição. Disse-me que eu era realmente o melhor aluno da escola, e que via em mim um grande potencial para ser desenvolvido. Se ele criticasse os meus trabalhos com os mesmos critérios que usava com os demais colegas, eu não evoluiria muito no desenho. Fazia-me desenhar tudo novamente para que eu me tornasse melhor a cada desenho, e saísse da escola um exímio desenhista. Com relação aos colegas menos talentosos, ele nem exigia muito, pois sabia que não adiantaria. Os caras não sabiam desenhar, não tinham nenhum talento e nenhum potencial a ser desenvolvido. Se ele fosse ser rigoroso com esses alunos, isso só serviria para talvez eles caírem na real e até deixarem a escola. A partir deste dia passei a gostar do professor e até lhe pedi que continuasse sendo exigente comigo. Ao final dos dois anos de curso eu ganhei os dois principais prêmios da escola, como melhor aluno da escola e como melhor projeto arquitetônico.
Muitos anos mais tarde esta lição foi muito importante também para o meu filho, que achava que o treinador de basquete era muito exigente com ele e pouco exigente com outros atletas da equipe.
Seguidamente vejo nas empresas em que atuo pessoas reclamando dos seus chefes, de como o chefe é crítico, exigente e perfeccionista. Se você está nessa situação, e odeia seu chefe por isso, saiba que ele está apostando em você, ele sabe que você tem potencial e está fazendo o possível para você desenvolver este potencial. Mas, se você faz um servicinho meia-boca e o seu chefe nem reclama, comece a se preocupar, pois o chefe já te largou de mão. A sua demissão é só questão de tempo. Abre o olho.
Um abraço do Dr. I
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Há 11 anos