quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O Qualidólatra

Ronaldo era o Coordenador da Qualidade da sua empresa, só que ele levou tão à sério esse negócio de qualidade que ele virou um qualidólatra, um viciado em qualidade. E a coisa ficou tão feia que ele foi parar na Associação dos Qualidólatras Anônimos (AQA). O texto a seguir é o depoimento do Ronaldo na primeira reunião com os Qualidólatras Anônimos:

Oi! Meu nome é Ronaldo.
Eu sou um CQCO – um Coordenador da Qualidade Compulsivo Obsessivo – um Qualidólatra.
Eu cheguei no fundo do poço. A gente acha que nunca vai chegar lá, mas um dia a gente chega.
Eu comecei com coisas leves: 5S, CCQs, Ferramentas da Qualidade...
Nesta época eu cheguei até a comprar o Memory Jogger, aquele livreto com as ferramentas da qualidade. Praticamente uma bíblia da Qualidade. Virou meu livro de cabeceira...
Depois vieram os fluxogramas, a padronização de processos e os gráficos de dispersão e histogramas.
A coisa foi ficando mais e mais pesada, e quando eu me dei conta eu já estava fazendo Bussiness Plan, usando Budget e Balance Score Card...
Eu já não me controlava mais...
Eu percebi que a coisa tinha ficado fora de controle mesmo quando eu dei de presente de formatura para o meu filho um livro do Falconi. Formatura do jardim de infância...
E a coisa foi num crescendo e fugiu do meu controle. Lá em casa a minha esposa dizia que meu filho estava com problemas na escola e eu já queria fazer um Brainstorming e um Ishikawa.
Na empresa as pessoas me evitam. Meu colega diz que precisa de ajuda com uma tarefa e eu já recomendo um Pareto e um 5W1H.
Eu não consigo mais explicar nada se não tiver o auxílio de um Excel ou de um PowerPoint...
No happy hour, eu não conseguia mais me comunicar com as pessoas. Elas falavam português e eu falava qualitês.
Nem o garçom me entendia quando eu dizia que o colarinho do chopp estava Não Conforme, e que ele precisava fazer uma Auditoria no Processo do chopp...
Ninguém me entende!!!
Eu preciso parar!!!
Agora eu sei que o importante é não dar o primeiro giro do PDCA. Se não, depois vem o segundo, o terceiro, o quarto e aí a gente não pára mais.
Eu vou parar! Eu posso parar! Eu quero parar!
É por isso que eu estou aqui hoje.

Foi aplaudido com emoção por todos os presentes...

Um abraço do Dr. I