quarta-feira, 8 de abril de 2009

Futebol fora do campo

Em 2006 fui trabalhar como executivo de futebol num clube da serra gaúcha, o Esporte Clube Juventude, na época pertencente à primeira divisão do futebol brasileiro, e pude experimentar o ambiente hostil do futebol, para quem não é da tchurma. Apesar de toda a bagagem que tenho em gestão de organizações, em especial em clubes esportivos, eu era visto em Caxias como um forasteiro que não teria contribuição significativa a dar ao clube. Sem falar na inveja que muitos sentiam pela remuneração que eu recebia, a maior do clube.

Diretores com interesses pessoais acima dos do clube, funcionários medíocres apadrinhados por diretores e conselheiros, boicotes e sabotagens de todos os lados, a pior crise financeira da história do clube, salários muito atrasados e pessoas altamente desmotivadas foram algumas das situações com que me deparei no clube.

Apesar de todas as dificuldades encontradas, duas coisas me encheram de orgulho no trabalho que durou nove meses: a condução do clube na conquista de um importante prêmio de gestão conferido pelo PGQP-RS (Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade) e a manutenção do atleta Zezinho no clube, vencendo uma ferrenha batalha contra um dos clubes grandes da capital gaúcha, que tem as iniciais GFPA.

Da conquista do prêmio de gestão pouco restou. Todo o trabalho de muitos anos foi abandonado no segundo semestre daquele ano, logo após a conquista do prêmio. Em clubes de futebol normalmente acontece coisas desse tipo: a diretoria que entra deixa de lado tudo que a diretoria que sai fez e reinicia do zero, conforme seus interesses. Naquele ano, o Juventude se superou, pois a própria diretoria que investiu na gestão do clube no primeiro semestre, abandonou o projeto no segundo e colocou tudo a perder.

Com relação ao atleta Zezinho, hoje com 17 anos, a maior promessa do futebol gaúcho e com passe estipulado em R$ 40.000,000,00 (isso mesmo, quarenta milhões de reais), o trabalho para mantê-lo no Juventude foi duro e desgastante, com lances cinematográficos, ameaças e intimidações num nível jamais presenciado em categorias de base no futebol gaúcho. E olha que, em 2006, o Zezinho tinha apenas 14 anos. Eu acreditava que o Juventude era o melhor clube para o menino desenvolver todo seu potencial. Ótimo para ele e melhor ainda para o JU. Por interesses pessoais, alguns dirigentes e profissionais do próprio Juventude queriam repassá-lo ao GFPA. A batalha era interna e externa, e deixou seqüelas. O clube da capital que tentou de todas as formas retirá-lo do clube da serra encontrou um oponente determinado a não ceder, e a usar de todos os artifícios legais para manter o atleta na serra: o Dr. I. Por conta disso, e não habituados a perder batalhas por jogadores das categorias de base, o clube da capital se “emburrou”, e considerou o Dr. I persona non grata.

Ao final de 2006, com orçamento reduzido pela metade, fiz o planejamento das categorias de base para o ano seguinte prevendo minha ausência, pois um administrador com um mínimo de sensibilidade não pode planejar que sua própria remuneração consumirá 10% de um orçamento.

E o Zezinho??? Está no JU até hoje. Foi profissionalizado em 2008 e deverá ser negociado para o futebol europeu nos próximos meses. Tornou-se o principal ativo do Juventude na sua luta para sair de mais uma grave crise financeira.

Um abraço do Dr. I

Um comentário:

  1. Newton
    Não poderia ter lido teu texto em melhor hora. Estou em Caxias, pois fiz o CaJu, e trabalhei toda semana no Caxias. Hoje fui ao Juventude,pois tenho vários clientes lá inclusive do profissional, que solicitaram minha presença. Qual não foi minha surpresa, na entrada havia uma nota proibindo minha entrada ao clube, bem como prestar serviços a qualquer atleta do clube. Fui falar com o mandante, que obviamente se omitiu e alegou que eu não poderia comercializar as fotos dentro do clube. Falei que tudo bem , mas que como fre-lancer eu tinha outras funções a cumprir, e que assim o faria sem descumprir as ordens do clube. Fui muito enfática e determinada , pois sei de meus direitos e deveres. Ele gaguejou muito e não soube rebater minhas quetões, pois disse a ele que o que faço com meu material fora do clube é problema meu. Ele tentou insistir que eu não poderia fazer fotos p os atletas, e se perdeu quando questionei se ele queria me impedir de fotografar, pois pertenço a ARFOC, sou jornalista credenciada e posso fotografar em qualquer Estádio deste planeta. Não gostaria de me indispor com o Juventude, mas sei que se eu conseguir provar que ele está querendo me proibir de fotografar o Juventude, uma vez que irei ao clube apenas como free e não levarei as fotos dentro do clube, posso colocar um baita processo por querer me impedir de exercer minha função. Teu material veio a calhar, justamente hoje, agora entendo que o problema não foi só comigo, pois tuas palavras caíram como luva. Por favor, me dê uma opinião, me sinto exatamente como falaste, sou tratada como
    uma forasteira.
    Mirela Putrich
    myrelah@yahoo.com.br

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