quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Uma história real de embrulhar o estômago

Assistindo o episódio do Sarney usando sua influência para conseguir uma boquinha no senado para o namorado da neta, me lembrei de uma história semelhante que aconteceu comigo há uns 12 anos atrás, na época que eu era gerente de unidade de uma dessas entidades que tem receitas compulsórias, descontadas dos trabalhadores e empresas de um determinado segmento. Um “S” desses que tem por aí, onde o dinheiro é abundante e onde não há fiscalização de quase nada. Quase um órgão público...

Eu tinha algumas semanas na casa quando entrou na minha sala um conselheiro da dita entidade. Na época, este conselheiro era um tradicional ex-futuro-deputado estadual. Hoje, a figura é prefeito de um município da fronteira do estado. Pois este senhor entrou na minha sala e já foi me passando o currículo de uma afilhada sua que estava se formando em Educação Física e que eu deveria contratar para ser professora da unidade. Expliquei-lhe que não estava precisando de nenhum professor na unidade, mas que iria encaminhar o currículo para a área de RH da entidade, para possível aproveitamento em outra unidade. O homem não se contentou com minha resposta e exigiu que eu contratasse sua afilhada para aquela unidade, pois ficava perto da sua casa e ela não precisaria pegar ônibus para ir para o trabalho. Com a minha insistente negativa, o sujeito ficou “meio” brabo e partiu para as ameaças. Saiu brabo e dizendo que iria procurar a diretoria da entidade. Alguns dias se passaram quando a área de RH abriu um processo seletivo para preencher uma suposta vaga de professor de Ed. Física na minha unidade. Mandei cancelar o processo e comprei uma baita incomodação. Mais algumas semanas e o RH encontrou um problema na documentação de um dos professores da unidade. Mandaram uma ordem para demitir o professor e abrir processo seletivo para substituição. Adivinhem que foi a primeira candidata que apareceu para a entrevista comigo? Tcham!!!

Aos poucos fui descobrindo que a maioria dos servidores da entidade eram apadrinhados de diretores e conselheiros, ganhavam muito, não faziam quase nada e não se podia demiti-los. O encarregado da manutenção ganhava quase o mesmo que o gerente e não sabia a diferença entre um prego e um parafuso, mas era o assador de churrasco oficial do presidente da entidade. Descobri também que as compras para o restaurante eram superfaturadas e que sempre as mesmas 3 empresas ganhavam a “licitação”, num revezamento sincronizado de dar inveja à qualquer equipe de nado sincronizado. Certamente uma incrível coincidência... E descobri muitas outras coisas “bacanas” também.

Vocês já devem estar se perguntando como se sobrevive num ambiente desses. Eu não descobri a tempo. Trabalhei apenas alguns meses e fui demitido. Mais ou menos na época que estava juntando documentos que comprovariam algumas falcatruas que vinham sendo praticadas na entidade.

O caso Sarney me fez relembrar essas coisas todas. E me fez ficar, como naquela época, enojado, com vontade de gritar, de protestar, de botar a boca no mundo. Mas aí a gente lembra que precisa juntar provas, documentos, gravações, essas coisas...

Na entidade que eu trabalhei não dava para trocar a diretoria e os conselheiros apenas com a minha vontade. Ainda bem que na política a gente pode tirar o poder da corja com o nosso voto.

Então vamos caprichar na próxima eleição.

Um abraço do Dr. I

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